Imagine um jovem comum, da era digital, amante de videogames, fascinado por computadores e por tecnologia. Agora imagine esse mesmo jovem vivendo com uma fé profunda, transformando seus dons tecnológicos em instrumentos de evangelização. Esse rapaz, ainda adolescente, acaba deixando uma marca no mundo espiritual que atravessa décadas. Ele se torna modelo para gerações que cresceram conectadas, provando que a santidade não é algo distante, mas algo vivível no tempo presente.
Este é o retrato de Carlo Acutis, um jovem que aliou fé e ciência, uso da internet e devoção eucarística. Hoje, você acompanhará toda a sua trajetória: desde o nascimento até a morte, da infância à maturidade espiritual, de sua vocação tecnológica à sua canonização. Prepare-se para conhecer a vida inspiradora de um adolescente que quis oferecer tudo a Deus, usando o tempo, o suor e os bits ao serviço da fé.
Carlo nasceu num dia de primavera, no terceiro de maio de mil novecentos e noventa e um, em Londres, Inglaterra, fruto de um casal italiano. Seus pais, Andrea e Antonia, pertenciam a famílias com boa condição material, mas não necessariamente praticantes fervorosos da fé. Logo após seu nascimento, a família regressou à Itália, estabelecendo-se em Milão. Era ali que Carlo cresceria e desenvolveria suas facetas humanas e espirituais.
Desde bebê demonstrou sensibilidade espiritual. Conta-se que acessava o mistério com naturalidade: quando criança pequena, ao vestir o casaco e dizer que queria ir à igreja para rezar por seu avô falecido, indicava que seu desejo de oração não era imposto, mas vinha de dentro. Embora seus pais não fossem assíduos na prática religiosa, ele mostrou cedo que viveria diferente.
Sua educação foi marcada por uma mistura de normalidade e singularidade: frequentou escolas católicas, teve babás que o ensinaram valores cristãos, aprendeu desde cedo a conviver com pessoas estrangeiras no entorno da casa e, nos caminhos para a escola, parava para cumprimentar zeladores, jardineiros e trabalhadores, aprendendo seus nomes como sinal de respeito humano.
No lar, havia um ambiente de liberdade e autonomia. Seus pais confiavam em quem ele era, para que ele pudesse crescer. A fé, então, foi crescendo à medida que ele fazia perguntas, muitas perguntas, e buscava respostas com autenticidade. Era comum ver nele aquele menino que questionava, mas não se contentava com respostas superficiais.
Quando chegou à idade de ingresso no ensino primário, Carlo iniciou seus estudos em uma escola católica em Milão. Logo se transferiu para uma escola das Irmãs Marcelinas, mais próxima de casa. Nessa rotina escolar, não era um aluno excepcional nos termos comuns dos exames, mas demonstrava curiosidade e autonomia intelectual. Ele lia, estudava por conta própria ciência da computação, música e outros interesses pessoais.
Adolescente, ingressou no colégio jesuíta Leão Treze, onde recebeu uma formação mais intensa. Ali, ele fortaleceu hábitos religiosos: frequentava missa com assiduidade, participava da adoração Eucarística e da confissão semanal. Recebeu a Primeira Comunhão quando tinha sete anos e o Crisma aos treze ou quatorze. Mas mais do que cumprir ritos, ele internalizou o sentido da Eucaristia, vendo nela não um símbolo distante, mas o encontro real com Cristo.
Como jovem, Carlo tinha gostos típicos: videogames, leitura, amigos, estudo. Ele possuía consoles, jogos como Pokémon ou Halo. Mas estabeleceu limites: restringia o uso do videogame a um tempo razoável por semana para não ser escravo disso. Era também um amigo sensível: se alguém sofria bullying, se sentia marginalizado ou com pais divorciados, ele os acolhia, convidava para sua casa, ouvia, defendia. Se via um colega com deficiência sendo insultado, intervinha. Ele dizia que era injusto ver alguém diminuído em sua dignidade.
Nessa fase, ele também foi catequista jovem em sua paróquia, ensinando aos pares os fundamentos da fé. Seu pároco chegou a comentar que Carlo tinha transparência e desejo de crescer no amor a Deus, aos pais e aos outros. Ele era um professor entre jovens, mas também aluno silencioso da graça.
No íntimo da vida de Carlo, a Eucaristia era um pilar central. Ele dizia que “a Eucaristia é o corredor para o céu”: quanto mais a recebemos, mais nos tornamos como Jesus. Para ele, não era apenas ritual, mas encontro real com o Senhor. Ele participava da adoração diante do sacrário com naturalidade e frequência, permanecendo em silêncio, contemplando a presença divina.
Orava o terço todos os dias, tinha devoção à Virgem Maria sob os títulos de Lourdes e Fátima, recitava orações ao anjo da guarda e nutria especial veneração por São Miguel Arcanjo. Se confessava semanalmente e oferecia sacrificialmente seus sofrimentos por intenções maiores, especialmente pela Igreja e pelo Papa.
Ele admirava santos jovens como Francisco de Assis, Domingos Sávio, Luís Gonzaga e outros exemplos que viviam a santidade antes da maturidade. Carlo não queria apenas imitar, mas incorporar aquela santidade em sua vida cotidiana. E assim viveu cada dia como missão de santidade.
A cotidianidade de Carlo era marcada por sua paixão por computadores. Ele aprendeu linguagens de programação, como Java e C++, e muitas vezes ajudava colegas, padres ou pessoas comuns a resolver pequenos problemas técnicos. Quando seu pároco lhe pediu que criasse o site da paróquia, ele assumiu com entusiasmo. Depois, convidado a desenvolver um site para voluntariado, também aceitou com alegria.
Mas o crescendo desse talento veio com uma ideia audaciosa: catalogar milagres eucarísticos reconhecidos pela Igreja e aparições marianas aprovadas em um site que ele próprio desenvolveria. Em dois anos e meio de trabalho, com apoio familiar, ele levantou dados, imagens e narrativas de numerosos casos ao redor do mundo. Este site foi inaugurado em quatro de outubro de dois mil e seis, poucos dias antes de sua partida. Quando estava hospitalizado, logo não pôde estar presente na exposição de sua obra, mas seu projeto continuou sendo exibido e compartilhado globalmente.
Através desse portal, mais pessoas foram sensibilizadas à realidade da presença de Cristo na Eucaristia. O site virou uma exposição itinerante e digital, traduzida a múltiplas línguas, percorrendo paróquias, escolas e centros de fé em todos os continentes. Ele chamou atenção dos jovens de hoje: tecnologia usada para evangelizar, não para alienar. Carlo exemplificou que os recursos digitais podem ser canal de graça, quando guiados pela fé.
Em outubro de dois mil e seis, Carlo começou a sentir mal-estar, uma inflamação na garganta e desidratação. Com o passar dos dias, seu quadro se agravou: surgiram hemorragias, sangue na urina, fraqueza intensa. Foi levado a um hospital e diagnosticado com leucemia promielocítica aguda, uma forma agressiva da doença.
Mesmo em meio à dor, ele manteve serenidade. Quando perguntaram se sentia muita dor, ele respondeu que “há pessoas que sofrem muito mais do que eu”. Pediu que não acordassem seus pais, pois os considerava cansados demais. Já em coma, passou por tratamento de limpeza de sangue. Depois de uma hemorragia cerebral, teve morte cerebral declarada, no dia onze de outubro. Morreu no dia doze, às seis e quarenta e cinco da manhã.
Antes de morrer, suas últimas palavras dirigidas à mãe foram belas e cheias de fé: “Mãe, não tenha medo. Desde que Jesus se fez homem, a morte se tornou a passagem para a vida, e não precisamos fugir dela. Preparemo-nos para experimentar algo extraordinário na vida eterna.” Ele quis ser enterrado em Assis, cidade com forte simbolismo franciscano, lugar de peregrinação e devoção.
Seu corpo foi exumado em vinte e três de janeiro de dois mil e dezenove e transferido ao Santuário da Espoliação, na Igreja de Santa Maria Maior, em Assis, onde pode ser venerado por peregrinos. Ainda que algumas pessoas tenham afirmado que seu corpo estaria incorrupto, autoridades eclesiásticas esclareceram que ele está envolto em uma máscara de cera para preservar o aspecto anterior ao sepultamento, prática comum em corpos santos, e que, de fato, não é declarado incorrupto.
Pouco tempo após sua morte, começaram orações espontâneas para que Carlo fosse reconhecido pela Igreja como santo. Em doze de outubro de dois mil e doze, no sexto aniversário de falecimento, a Arquidiocese de Milão abriu oficialmente sua causa de beatificação. O processo seguiu diversas fases: investigação diocesana, documentação, testemunhos, análise de virtudes, verificação de milagres e aprovação em Roma.
Em cinco de julho de dois mil e dezoito, o Papa Francisco reconheceu que Carlo demonstrou virtudes heroicas e o declarou venerável. Em vinte e um de fevereiro de dois mil e vinte, foi aprovado um milagre atribuído à sua intercessão envolvendo a cura de uma criança no Brasil com problema pancreático. Com isso, ele foi beatificado em dez de outubro de dois mil e vinte, em Assis.
Em vinte e três de maio de dois mil e vinte e quatro, um segundo milagre foi reconhecido: uma jovem costarriquenha chamada Valeria caiu de bicicleta, sofreu hemorragia cerebral grave com prognóstico sombrio, e foi recuperada após oração a Carlo. Com esse segundo milagre confirmado, abriu-se caminho para sua canonização.
A cerimônia estava marcada para vinte e sete de abril de dois mil e vinte e cinco, durante o Jubileu dos Adolescentes. Mas com o falecimento do Papa Francisco em vinte e um de abril de dois mil e vinte e cinco, o rito foi suspenso. Em treze de junho daquele ano, o novo Papa, Leão XIV, anunciou que Carlo seria canonizado junto com outro jovem italiano, Pier Giorgio Frassati. No dia sete de setembro de dois mil e vinte e cinco, na Praça de São Pedro, diante de dezenas de milhares de fiéis, a canonização ocorreu.
Esse evento marcou um momento histórico: Carlo foi proclamado santo, sendo considerado o primeiro santo da geração millennial, modelo para jovens que cresceram em plena era digital, demonstrando que a santidade é possível em meio aos desafios contemporâneos.
A ascensão de Carlo à santidade revela algo profundo para a Igreja e para o mundo contemporâneo. Ele é símbolo da possibilidade de harmonizar fé e tecnologia, não como antagonistas, mas como parceiras. Ele mostra que o jovem do século vinte e um pode usar a internet para evangelizar, sem comprometer sua vida espiritual.
Ele se torna farol para quem vive na cultura digital: aquela que muitas vezes fragmenta, dispersa e isola. Ele demonstra que cada clique pode ser gesto de amor, cada post pode apontar a verdade, cada site pode revelar mistérios de Deus. Sua vida é convite: usar redes sociais, programação, redes de comunicação como canais de graça.
Além disso, sua história inspira jovens a não se contentarem com o banal, a não adormecerem a própria fé. Se um adolescente pode criar uma exposição de milagres e alcançar o mundo, quantos outros não podem ser instrumento de transformação? Ele mostra que a santidade é para todos, não para poucos, inclusive para quem vive conectado.
Como santo, ele é invocado nos meios digitais, para jovens, estudantes, pessoas que lidam cotidianamente com tecnologia. Ele personifica a união entre razão e fé: não há conflito entre ciência bem usada e espiritualidade. Ele ensinou com sua vida que se pode amar Deus e genuinamente amar o mundo moderno.
Por fim, sua vida nos estimula a ver o ordinário com olhos de eternidade. Um adolescente que brincava, estudava, rezava e se doava, no simples, se tornou santo universal. Ele ensina que não precisamos fazer grandes prodígios, mas viver com consistência o que está diante de nós: escola, família, amigos, deveres, apostolado digital. A santidade cresce no dia a dia, no uso das horas, no silêncio de uma adoração, no código de um site que divulga milagres.
Enquanto as luzes finais deste documentário se acendem, resta um convite: permita que a história de Carlo toque seu coração. Reflita: se ele, com quinze anos, já abriu caminho para milhões, o que você pode fazer com seus dons, sua paixão, seu tempo? Talvez você não desenvolva um site mundial, mas pode doar seu talento, sua escuta, seu sorriso, seu serviço. Que cada passo pequeno seja oferecimento.
Que a vida de Carlo Acutis nos desperte para uma fé audaciosa: acreditar que no mundo virtual há espaço para Deus, que nas redes há lugar para o sagrado, que no cotidiano há possibilidade de santidade. Que você saia deste vídeo com uma pergunta viva: que projeto santo, grande ou pequeno, posso iniciar hoje para glorificar Deus, como Carlo fez?
E assim encerramos esta matéria, mas não a inspiração. Que o exemplo deste jovem santo continue a ecoar nas telas, nos corações e nos caminhos de muitos. Que Deus conceda a cada espectador a coragem de ser santo em seu tempo, na sua cultura, com seus talentos.