Tudo sobre o Neolítico (Aula 31)

Tudo sobre o Neolítico (Aula 31)

23 de junho de 2025 Off Por Editora Norat

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Dados de Catalogação na Publicação:
NORAT, Markus Samuel Leite. A construção da história e a origem da humanidade. João Pessoa: Editora Norat, 2025. Livro Digital, Formato HTML5, Tamanho: 96,3 gigabytes (96.300.000 kbytes)

ISBN: 978-65-86183-82-5 | Cutter: N834c | CDU – 930.85

Palavras-chave: Pré-história; Evolução humana; Formação das civilizações

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O ser humano percorreu um longo caminho desde seus primeiros passos no Paleolítico. Mas foi no Neolítico que algo extraordinário aconteceu. Algo que transformou profundamente o modo de viver, de pensar e de organizar a sociedade. Estamos falando da chamada Revolução Neolítica. Um verdadeiro divisor de águas na trajetória da humanidade.

O Neolítico, palavra que significa “pedra nova” em grego, é o período que vai aproximadamente do décimo milênio antes de Cristo até o terceiro milênio antes de Cristo, marcando o fim da chamada Idade da Pedra. Ele não surgiu em todas as regiões do planeta ao mesmo tempo, mas em locais específicos onde as condições climáticas e ambientais favoreceram transformações profundas no cotidiano das comunidades humanas.

A principal dessas transformações foi a passagem de uma economia predatória para uma economia produtora. Isso significa que os seres humanos deixaram de apenas extrair da natureza aquilo que ela oferecia – como frutas, raízes ou animais – e passaram a produzir seu próprio alimento, por meio da agricultura e da domesticação de animais. Essa mudança alterou completamente a dinâmica da vida humana.

Tudo começou com mudanças climáticas significativas. Ao final da última glaciação, as temperaturas começaram a subir, os grandes mamíferos foram desaparecendo, as florestas se expandiram e, nos vales férteis dos grandes rios, especialmente no Oriente Próximo, as condições tornaram-se ideais para a prática agrícola. Foi ali, na região conhecida como Crescente Fértil, que surgiram as primeiras experiências bem-sucedidas de cultivo.

Plantas como trigo, cevada, milho, feijão e arroz começaram a ser domesticadas e cultivadas de forma sistemática. Com isso, comunidades inteiras deixaram o nomadismo e passaram a se fixar em áreas próximas a rios, onde havia abundância de água e terras férteis. Surgiram então os primeiros povoados agrícolas.

A domesticação de animais, como o cão, a cabra, o carneiro, o boi e até mesmo o dromedário, representou outra conquista essencial. Esses animais passaram a fornecer não apenas carne e leite, mas também força de trabalho e segurança. A criação de rebanhos passou a fazer parte da rotina de diversos grupos humanos.

Essa nova forma de vida exigia organização. Era preciso cuidar dos campos, proteger os animais, estocar alimentos e planejar as estações do plantio e da colheita. Com isso, nasceu a primeira divisão do trabalho: enquanto alguns se dedicavam ao cultivo, outros cuidavam dos rebanhos, produziam vestimentas, cerâmica, ferramentas, armas e até mesmo se encarregavam da proteção das aldeias. Isso gerou também as primeiras formas de desigualdade social. Alguns indivíduos começaram a concentrar mais autoridade, riqueza ou prestígio do que outros. Surgiram os curandeiros, os guerreiros, os sacerdotes. A sociedade tornava-se mais complexa.

Esse novo modo de vida é tão impactante que os estudiosos chamaram esse momento de Revolução Neolítica. E com razão. Pela primeira vez na história, o ser humano deixou de depender apenas da natureza e passou a intervir nela de forma planejada e contínua. Aprendeu a reproduzir plantas, a guardar sementes, a moldar o espaço em que vivia. Criou estruturas permanentes, inventou técnicas, desenvolveu ferramentas mais sofisticadas e transformou profundamente a sua relação com o ambiente.

Com a sedentarização, as habitações também mudaram. Casas feitas com pedras, madeira, argila e cobertas com colmo passaram a ser construídas com alicerces sólidos. Eram moradias simples, muitas vezes com apenas um cômodo, onde a família se reunia em torno da lareira para aquecer o ambiente e preparar alimentos. A organização do espaço refletia a estrutura social: os lugares dentro da casa eram ocupados conforme a idade e a posição de cada membro da família.

A cerâmica teve um papel fundamental nesse novo cenário. Com o cultivo da terra, surgiu a necessidade de armazenar grãos, sementes e água. As primeiras peças de cerâmica surgiram para atender essa demanda prática, mas logo passaram a ser decoradas, indicando um senso estético cada vez mais apurado. A tecelagem e a cestaria também ganharam importância, permitindo que roupas, utensílios e recipientes fossem produzidos de forma artesanal.

A vestimenta, aliás, também passou por mudanças. Os homens usavam saias feitas de lã ou de peles de animais, enquanto as mulheres vestiam roupas coloridas e adornadas, muitas vezes cobrindo a cabeça com véus. Colares, brincos e braceletes feitos de ouro, prata ou cobre tornaram-se símbolos de status e identidade.

No campo da espiritualidade, o Neolítico também trouxe avanços notáveis. O culto à fertilidade assumiu um papel central. Estatuetas femininas representando seios fartos, ventres proeminentes e formas exuberantes revelam uma reverência profunda à capacidade de gerar vida. A terra era vista como mãe. A mulher era vista como fonte de continuidade. A fertilidade da terra e do corpo feminino passaram a ser celebradas em rituais e práticas religiosas.

Com o surgimento da agricultura, nasceram os cultos agrários. Acreditava-se que forças invisíveis governavam as colheitas, os ciclos da natureza e o destino das comunidades. Surgiram então as primeiras divindades, associadas ao sol, à chuva, aos animais e às colheitas. É neste contexto que aparecem também os primeiros monumentos megalíticos, como os menires, os dólmens e os cromeleques. Esses grandes blocos de pedra, dispostos de forma vertical ou em círculo, serviam provavelmente a funções funerárias ou religiosas. Eram templos ao ar livre, santuários de pedra onde se celebrava o mistério da vida e da morte.

A arte do Neolítico, portanto, estava intimamente ligada à espiritualidade, à prática ritual, à vida em comunidade. Era uma expressão do sagrado, da relação entre o ser humano e os ciclos da natureza.

O Neolítico também marcou o surgimento das primeiras formas rudimentares de comércio. Quando uma aldeia produzia mais do que necessitava, podia trocar seu excedente com outras comunidades. No início, o que servia como moeda de troca eram as próprias sementes. Com o tempo, esse processo evoluiu, abrindo caminho para o surgimento do dinheiro.

Outro aspecto decisivo foi o crescimento populacional. Com a produção de alimentos mais estável e previsível, as comunidades aumentaram em número e em densidade. Aldeias se transformaram em vilarejos. Vilarejos se tornaram centros mais organizados. A vida coletiva tornou-se mais intensa. E com isso, surgiram novas necessidades: leis, organização, defesa, liderança. Os alicerces das futuras civilizações estavam sendo lançados.

Ao final do Neolítico, outra transformação marcante ocorreria: o domínio dos metais. A transição para a Idade dos Metais marcaria o fim da Pré-História e o início da História propriamente dita, com o surgimento da escrita e das primeiras grandes cidades. Mas o Neolítico permanece, até hoje, como um dos capítulos mais decisivos da nossa trajetória. Foi nesse período que aprendemos a cultivar, a construir, a planejar, a viver em comunidade e a simbolizar o mundo ao nosso redor. Foi ali que lançamos as sementes daquilo que viríamos a ser.

Até a próxima parte!