
Neolítico: transformações sociais que aconteceram nesse período (Aula 18)
22 de junho de 2025Como fazer referência ao conteúdo:
Dados de Catalogação na Publicação: NORAT, Markus Samuel Leite. A construção da história e a origem da humanidade. João Pessoa: Editora Norat, 2025. Livro Digital, Formato HTML5, Tamanho: 96,3 gigabytes (96.300.000 kbytes) ISBN: 978-65-86183-82-5 | Cutter: N834c | CDU – 930.85 Palavras-chave: Pré-história; Evolução humana; Formação das civilizações TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. É proibida a cópia total ou parcial desta obra, por qualquer forma ou qualquer meio. A violação dos direitos autorais é crime tipificado na Lei n. 9.610/98 e artigo 184 do Código Penal. |
Olá! Que bom ter você aqui em mais uma aula da nossa jornada pelos primeiros capítulos da história da humanidade. Hoje vamos falar sobre um tema fascinante e muitas vezes subestimado quando se estuda o Neolítico, que são as transformações sociais que aconteceram nesse período.
Na aula anterior, vimos que a Revolução Agrícola mudou radicalmente a maneira como o ser humano se relacionava com o ambiente. Mas o impacto dessas mudanças foi muito além da agricultura. Elas modificaram profundamente a forma como os grupos humanos se organizavam, como dividiam o trabalho, como criavam laços familiares e como se expressavam culturalmente.
Nesta aula, vamos entender como surgiram os primeiros sinais de estrutura social, como o trabalho passou a ser distribuído entre homens e mulheres, como a invenção da cerâmica ajudou a moldar o cotidiano e, especialmente, o papel central que a mulher teve na transição do nomadismo para o sedentarismo e na consolidação da agricultura.
A DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO
Com a estabilização da vida em aldeias, a rotina das comunidades humanas começou a se especializar. Enquanto no período paleolítico as tarefas eram, em sua maioria, compartilhadas por todos os membros do grupo, no Neolítico a organização social passou a se basear mais intensamente em funções específicas.
Nesse novo contexto, consolidou-se uma divisão sexual do trabalho. Essa divisão não surgiu por acaso, mas a partir das necessidades práticas e da observação cotidiana. De maneira geral, os homens passaram a se dedicar com mais frequência às tarefas que exigiam longos deslocamentos e maior uso da força física, como a derrubada de árvores, a preparação do solo mais bruto e a proteção do grupo em momentos de conflito. Já as mulheres, por estarem mais próximas do espaço da aldeia e muitas vezes responsáveis pelos cuidados com as crianças, assumiram atividades essenciais para a sobrevivência e o desenvolvimento coletivo, como a semeadura, o cuidado com as hortas, a colheita, o armazenamento dos alimentos, a fabricação de cerâmicas e o preparo de tecidos e utensílios.
Essa divisão, é claro, variava de acordo com cada grupo e com o contexto ambiental e cultural. Em muitos casos, mulheres também participavam de atividades de escavação e de construção, e homens também cuidavam dos animais ou participavam do preparo de alimentos. Mas o que marca essa fase é o surgimento de um modelo social mais estruturado, onde os papéis começaram a se delinear com mais nitidez, com base no cotidiano das tarefas.
É importante reforçar que, nesse momento, o trabalho de todos era igualmente valorizado, pois cada função era vital para a sobrevivência do grupo. Ainda não havia as grandes desigualdades sociais que surgiriam posteriormente com a concentração de poder e de riqueza.
A INVENÇÃO DA CERÂMICA E SUA IMPORTÂNCIA
Um dos marcos tecnológicos mais importantes do Neolítico foi a invenção da cerâmica. A cerâmica surgiu como uma necessidade prática. Com a produção de alimentos e o armazenamento de grãos e líquidos, era fundamental encontrar formas de guardar e conservar esses recursos. Os primeiros recipientes foram feitos de fibras vegetais, couro e madeira, mas esses materiais tinham durabilidade limitada e pouca resistência ao fogo.
Foi então que os grupos neolíticos começaram a moldar o barro, misturando água e terra, para formar potes, tigelas, jarros e outros recipientes. Depois de moldados, esses objetos eram secos ao sol e, mais tarde, levados ao fogo para ganhar resistência. Nascia ali uma das maiores invenções da humanidade.
A cerâmica revolucionou a vida nas aldeias. Permitiu o armazenamento seguro dos alimentos, possibilitou o cozimento dos grãos e legumes com mais eficiência, e criou novos hábitos no preparo e consumo das refeições. Além disso, muitos dos potes e vasos produzidos apresentavam desenhos e padrões que revelam uma crescente expressão artística e simbólica.
A cerâmica também teve um papel crucial nos rituais. Em algumas comunidades, urnas eram utilizadas para enterramentos e cerimônias ligadas à fertilidade e à colheita. O barro, ao ser moldado pelas mãos humanas, tornou-se símbolo da transformação e do domínio sobre a matéria. Cada peça de cerâmica era, ao mesmo tempo, um objeto utilitário e uma expressão cultural.
A especialização da produção de cerâmica também contribuiu para a divisão do trabalho. Algumas pessoas passaram a se dedicar exclusivamente a essa tarefa, desenvolvendo técnicas refinadas e estilos próprios. Com o tempo, essas peças passaram a ser trocadas entre aldeias, antecipando o surgimento do comércio.
O SURGIMENTO DA PROPRIEDADE COLETIVA E DA ORGANIZAÇÃO FAMILIAR
Com a fixação em um mesmo território e a produção de excedentes, a noção de propriedade coletiva começou a se formar. No início, tudo era de todos. A terra, os alimentos, os animais e os utensílios eram usados de forma compartilhada, segundo as necessidades de cada grupo.
Mas à medida que os grupos cresciam, que os recursos se tornavam mais diversos e que o trabalho se especializava, surgia a necessidade de regras de convivência mais definidas. Foi nesse contexto que surgiram as primeiras formas de organização familiar.
A família deixou de ser apenas um agrupamento biológico e passou a ser a base da estrutura social. Ela organizava o trabalho, transmitia os saberes, cuidava da criação das crianças e dos idosos, e garantia a continuidade da comunidade.
Nesse momento, a propriedade ainda era, na maioria dos casos, coletiva ou familiar. Não havia, como nas sociedades posteriores, a acumulação privada de terras ou de riquezas por indivíduos. O grupo decidia o uso da terra, a colheita, a distribuição dos alimentos e a proteção dos bens comuns.
A terra passou a ter valor simbólico. Era o espaço do plantio, da moradia, dos rituais e da ancestralidade. Surgiam os primeiros vínculos territoriais e os laços afetivos ligados ao lugar de origem. Essa conexão com o território gerou sentimentos de pertencimento e identidade.
A MULHER E A AGRICULTURA: O PAPEL FEMININO NA PRODUÇÃO
Durante muito tempo, a importância da mulher no Neolítico foi ignorada ou diminuída nos relatos tradicionais da história. Mas hoje sabemos que as mulheres foram protagonistas absolutas na Revolução Agrícola.
Foram elas, em muitos casos, as responsáveis por observar o crescimento natural das plantas, identificar sementes, testar formas de cultivo, desenvolver técnicas de irrigação e organizar a colheita. Como estavam mais próximas da aldeia e do espaço doméstico, tinham acesso contínuo ao ciclo das plantas, à terra e aos processos de transformação da natureza.
Além disso, as mulheres desempenhavam múltiplas funções: cuidavam dos filhos, dos doentes e dos idosos; preparavam os alimentos; armazenavam a colheita; produziam cerâmica; coletavam ervas medicinais; e transmitiam os saberes às gerações seguintes.
A mulher no Neolítico não era apenas cuidadora, mas também agricultora, técnica, educadora, curandeira, artista e líder espiritual. Em muitas culturas, ela era associada à fertilidade, à terra, à abundância e ao ciclo da vida. Estatuetas e símbolos femininos encontrados em escavações indicam que, em vários contextos, a figura feminina ocupava um lugar central na religiosidade e na organização comunitária.
Portanto, o reconhecimento do papel da mulher na produção agrícola e na construção social do Neolítico é essencial para compreender a complexidade desse período e o quanto ele moldou o que somos hoje.
CONCLUSÃO
O Neolítico foi muito mais do que uma revolução técnica. Ele foi uma revolução social, simbólica e cultural. Ao estabelecer vínculos com a terra, o ser humano transformou também sua forma de viver em grupo, de se relacionar com o outro e de se compreender no mundo.
A divisão do trabalho, a invenção da cerâmica, a organização das famílias, o surgimento da propriedade coletiva e o papel das mulheres na produção não foram apenas consequências da agricultura. Foram expressões de uma nova maneira de ser humano, mais complexa, mais coletiva e mais estruturada.
Na próxima aula, vamos dar continuidade a essa transformação e estudar o crescimento das aldeias e o surgimento das primeiras cidades, entrando na reta final da Pré-História e abrindo caminho para a História propriamente dita. Te espero lá. Até a próxima!