
Alterações Climáticas e o Desenvolvimento das Civilizações (Aula 27)
23 de junho de 2025Como fazer referência ao conteúdo:
Dados de Catalogação na Publicação: NORAT, Markus Samuel Leite. A construção da história e a origem da humanidade. João Pessoa: Editora Norat, 2025. Livro Digital, Formato HTML5, Tamanho: 96,3 gigabytes (96.300.000 kbytes) ISBN: 978-65-86183-82-5 | Cutter: N834c | CDU – 930.85 Palavras-chave: Pré-história; Evolução humana; Formação das civilizações TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. É proibida a cópia total ou parcial desta obra, por qualquer forma ou qualquer meio. A violação dos direitos autorais é crime tipificado na Lei n. 9.610/98 e artigo 184 do Código Penal. |
Alterações Climáticas e o Desenvolvimento das Civilizações
Subtópicos tratados:
- A glaciação e a última Era do Gelo
- O impacto das mudanças climáticas na agricultura
- A crise hídrica no Saara e a migração para regiões fluviais
- Oásis, desertos e as primeiras cidades do Crescente Fértil
Olá! Que bom ter você aqui para mais uma aula da nossa jornada pela história da humanidade. Hoje vamos conversar sobre um tema tão antigo quanto atual: as alterações climáticas e o papel que elas desempenharam no surgimento das civilizações.
Vivemos em um tempo em que muito se fala sobre mudanças no clima, aquecimento global, escassez de água e impacto ambiental. Mas essas questões não são novas. Ao longo de milênios, as alterações climáticas moldaram profundamente os caminhos trilhados pelos seres humanos, influenciando onde viviam, como produziam seus alimentos, para onde migravam e de que maneira se organizavam em sociedade.
Hoje vamos compreender como mudanças drásticas no clima transformaram paisagens, acabaram com florestas, criaram desertos e forçaram populações a buscar refúgio em regiões fluviais, dando origem ao que chamamos de berço das civilizações.
A GLACIAÇÃO E A ÚLTIMA ERA DO GELO
Para começar nossa história, precisamos retornar no tempo, até a chamada última Era Glacial, também conhecida como última glaciação, que teve seu ápice há cerca de vinte mil anos. Durante esse período, grandes porções do planeta estavam cobertas por camadas de gelo espessas, especialmente nas regiões mais ao norte da Europa, Ásia e América do Norte.
O clima global era significativamente mais frio. Em algumas áreas, a temperatura média era dezenas de graus mais baixa do que é hoje. Os oceanos estavam em níveis muito mais baixos, pois grande parte da água do planeta estava acumulada em forma de gelo. Isso expôs faixas de terra que hoje estão submersas, como o famoso Estreito de Bering, que ligava a Ásia à América do Norte e permitiu a migração de seres humanos entre continentes.
Ao mesmo tempo, o sul do planeta, incluindo vastas áreas da África, América do Sul e Ásia, enfrentava um ambiente árido, com vegetação mais escassa e climas secos. Em regiões onde hoje existem florestas, predominavam paisagens semelhantes a savanas.
Os grupos humanos que viviam nesse período eram caçadores-coletores, adaptados a um mundo em constante movimento. Seguiam os animais migratórios, dependiam de fontes de água temporárias e precisavam de uma profunda compreensão dos ciclos da natureza para sobreviver.
Mas então, algo começou a mudar.
Por volta de doze mil anos atrás, o planeta iniciou um processo de aquecimento global natural, marcando o fim da Era Glacial e o início do período que conhecemos como Holoceno. Com esse aquecimento, as geleiras começaram a derreter, os mares subiram, as chuvas aumentaram em algumas regiões e diminuíram em outras. Os biomas se transformaram, e com isso, a vida humana também precisou se adaptar.
O IMPACTO DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA AGRICULTURA
Com o fim da Era do Gelo e a elevação das temperaturas globais, diversas regiões do planeta tornaram-se mais habitáveis. A fertilidade do solo aumentou em certas áreas, os rios se estabilizaram, e as condições climáticas passaram a favorecer o crescimento de determinadas espécies vegetais.
Foi nesse contexto que surgiram as primeiras experiências agrícolas, especialmente no chamado Crescente Fértil, uma região que abrange partes do atual Iraque, Síria, Líbano, Jordânia, Israel e Egito. A agricultura, que começou com a domesticação de cereais como trigo e cevada, foi uma resposta direta à nova realidade ambiental.
Em vez de seguir os animais e os frutos da estação, os seres humanos passaram a cultivar as plantas que desejavam consumir. Isso trouxe previsibilidade alimentar, aumento da produção e a possibilidade de estocar alimentos. A agricultura permitiu que os grupos humanos se fixassem em determinados territórios, o que levou à criação das primeiras aldeias e, com o tempo, das primeiras cidades.
Mas essa transformação não foi homogênea. Nem todas as regiões se tornaram férteis. Algumas, pelo contrário, começaram a enfrentar escassez hídrica, desertificação e mudanças drásticas em seus ecossistemas. É nesse ponto que entra uma das mudanças mais impactantes da história humana: a transformação climática do Saara.
A CRISE HÍDRICA NO SAARA E A MIGRAÇÃO PARA REGIÕES FLUVIAIS
Hoje, o Saara é o maior deserto quente do planeta. Mas há cerca de dez mil anos, essa vasta área do norte da África era muito diferente. Durante um período conhecido como Ótimo Climático do Holoceno, o Saara era repleto de lagos, savanas, florestas esparsas e animais de grande porte, como girafas, hipopótamos e crocodilos.
Diversas populações humanas habitavam essa região, vivendo da caça, da pesca e do pastoreio. Os registros arqueológicos revelam pinturas rupestres de animais selvagens, cenas de vida comunitária e rituais em cavernas e abrigos da região do Saara central, especialmente no que hoje é a Líbia, a Argélia e o Chade.
Porém, por volta de sete mil anos atrás, o clima começou a mudar drasticamente. Os ventos se alteraram, as monções enfraqueceram, e as chuvas diminuíram. Em poucas centenas de anos, os lagos secaram, a vegetação desapareceu, e o solo se tornou árido e inóspito.
Com a perda da água e da fertilidade, os grupos humanos foram forçados a abandonar o Saara e migrar em busca de terras habitáveis. Essa migração foi uma das maiores e mais significativas da história da humanidade.
A maioria desses povos deslocou-se para o sul e para o leste, concentrando-se em regiões próximas a rios perenes e férteis, como o Nilo, o Tigre, o Eufrates e o Jordão. E foi justamente nesses lugares que floresceram as primeiras grandes civilizações da Antiguidade.
OÁSIS, DESERTOS E AS PRIMEIRAS CIDADES DO CRESCENTE FÉRTIL
Ao chegarem às margens desses grandes rios, os grupos humanos encontraram condições ideais para a agricultura, o pastoreio e a fixação de assentamentos. A regularidade das cheias, como as do rio Nilo, fertilizava naturalmente o solo, permitindo colheitas abundantes.
Essas regiões tornaram-se refúgios ecológicos em meio a zonas cada vez mais secas, funcionando como verdadeiros oásis naturais, onde era possível desenvolver uma vida estável e produtiva.
No chamado Crescente Fértil, surgiu uma sequência de transformações sociais e tecnológicas que levou à criação das primeiras cidades planejadas, dos sistemas de irrigação, das religiões organizadas, da escrita e da política centralizada.
Na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates, surgiram cidades como Ur, Uruk e Babilônia. No Egito, ao longo do Nilo, ergueram-se Tebas, Mênfis e as grandes pirâmides de Gizé. Essas cidades nasceram e prosperaram não apenas pela habilidade humana, mas também por uma resposta criativa a um mundo em mudança climática.
A escassez no Saara foi o empurrão que levou esses grupos a se reorganizar em torno da água. E onde havia água, surgia a vida, a cultura, a religião e a civilização.
Os desertos, que hoje parecem vazios, na verdade foram espaços de trânsito, de memória e de transformação. E os rios, por sua vez, tornaram-se os eixos da história, as veias pelas quais correu o pulso das primeiras civilizações.
CONCLUSÃO
A história da humanidade é inseparável da história do clima. As glaciações, os períodos de aquecimento, as secas e as chuvas moldaram os caminhos das migrações, das invenções e das civilizações.
Muito antes da tecnologia moderna, os seres humanos precisaram aprender a observar o céu, sentir o vento, ouvir a terra e reagir com inteligência e criatividade às mudanças do ambiente.
Foi assim que, das savanas férteis do Saara ao barro das margens do Nilo, das planícies da Mesopotâmia às montanhas que margeiam o crescente fértil, nasceram os alicerces das sociedades que conhecemos hoje.
Entender esse passado é fundamental para pensarmos o presente. Se antes os seres humanos aprenderam a lidar com as transformações da natureza com sabedoria, hoje, mais do que nunca, precisamos reaprender a viver em equilíbrio com o planeta.
Na próxima aula, vamos tratar sobre A Arte e a Espiritualidade na Pré-História. Te espero lá. Até a próxima!