Curso de História para o 6º Ano do Ensino Fundamental
Aula 5.2 – Mesopotâmia: origem e características gerais
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| Dados de Catalogação na Publicação: NORAT, Markus Samuel Leite. Curso de história para o 6º ano do ensino fundamental. João Pessoa: Editora Norat, 2025. Livro Digital, Formato: HTML5, Tamanho: 132,4125 gigabytes (132.412.500 kbytes) ISBN: 978-65-86183-88-7 | Cutter: N828c | CDD-907.1 | CDU-94(075.3) Palavras-chave: História. Ensino Fundamental. Educação Básica. Civilizações Antigas. Idade Média. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. É proibida a cópia total ou parcial desta obra, por qualquer forma ou qualquer meio. A violação dos direitos autorais é crime tipificado na Lei n. 9.610/98 e artigo 184 do Código Penal. |
Aula 5.2 – Mesopotâmia: origem e características gerais
Primeiras cidades-estado e suas formas de organização
Para compreender como surgiram as primeiras cidades estado da Mesopotâmia, precisamos imaginar um mundo muito diferente do que conhecemos hoje. Não havia prédios altos, carros, estradas pavimentadas ou fronteiras claramente definidas. Havia, ao contrário, uma vasta planície entre dois grandes rios, o Tigre e o Eufrates, onde a água fertilizava o solo e permitia que a agricultura florescesse. Foi justamente nessa região que as comunidades humanas descobriram maneiras inéditas de se organizar, criando estruturas sociais, políticas e econômicas que seriam fundamentais para a construção daquilo que chamamos de civilização.
À medida que a agricultura se desenvolvia e os sistemas de irrigação se tornavam mais eficientes, a produção de alimentos cresceu de forma expressiva. Essa abundância fez com que as pessoas deixassem de se deslocar de um lugar para outro e passassem a viver de maneira fixa em aldeias cada vez maiores. Com o tempo, essas aldeias se transformaram em centros urbanos complexos, capazes de abrigar milhares de pessoas, cada uma desempenhando funções específicas dentro da sociedade. Surgiram artesãos especializados, agricultores dedicados, comerciantes que viajavam levando produtos para longe, sacerdotes responsáveis pelos rituais religiosos e líderes políticos que organizavam o trabalho coletivo. As primeiras cidades estado nasceram desse conjunto de transformações.
Uma cidade estado não era apenas um agrupamento de casas. Ela era um território independente, com seu próprio governante, suas próprias leis e sua própria organização interna. Cidades como Uruk, Ur, Lagash e Nippur são alguns dos exemplos mais conhecidos desse tipo de estrutura política. Cada uma tinha um centro urbano cercado por muralhas, que protegiam a população em momentos de conflito. Ao redor ficavam os campos agrícolas, irrigados por canais cuidadosamente construídos e mantidos por muitos trabalhadores. Essa combinação de cidade e campo era essencial para a sobrevivência de todos.
O governo dessas cidades estado era exercido por líderes que podiam ser reis, chefes militares ou autoridades escolhidas pelos sacerdotes. Em muitos casos, acreditava se que esses governantes eram intermediários entre os deuses e os seres humanos. Eles eram responsáveis por garantir que os templos fossem mantidos, que os rituais fossem realizados no momento certo e que a cidade estivesse em harmonia com as forças superiores que controlavam o destino das pessoas. Essa ligação entre religião e política era tão intensa que se pode dizer que uma cidade estado mesopotâmica funcionava quase como uma grande casa dos deuses, administrada por seus representantes na Terra.
A organização interna das cidades estado era complexa e envolvia diferentes grupos sociais. No topo da estrutura estava o governante, seguido pelos sacerdotes, que tinham enorme influência sobre as decisões da comunidade. Logo depois vinham os escribas, que eram responsáveis por registrar tudo o que ocorria na cidade, desde o armazenamento de alimentos até acordos comerciais e decisões judiciais. Eles dominavam a escrita e, por isso, eram essenciais para o funcionamento da administração pública. Abaixo deles estavam os artesãos especializados, que produziam ferramentas, tecidos, cerâmicas e objetos de uso cotidiano. Os agricultores, pescadores e criadores de animais formavam a base da sociedade, já que sua produção sustentava toda a comunidade. Também havia trabalhadores que atuavam na limpeza dos canais de irrigação, na construção de muros e templos, e na defesa da cidade.
Além dessa divisão funcional, existia também uma forte organização territorial dentro da cidade. As casas eram construídas próximas umas das outras, formando ruas estreitas e sinuosas. O centro da cidade era ocupado pelos templos e edifícios administrativos, geralmente construídos em locais altos para simbolizar a proximidade com os deuses. Ao redor desse centro sagrado ficavam as áreas comerciais, onde mercadores vendiam alimentos, tecidos, metais, cerâmicas e produtos vindos de terras distantes. Mercados eram espaços muito movimentados, cheios de sons, cheiros e cores, representando o coração econômico da cidade.
Outro aspecto fundamental das cidades estado era sua autonomia. Cada uma possuía seu próprio exército, formado para defender o território e garantir o controle das terras férteis próximas aos rios. Muitas vezes, cidades diferentes competiam entre si por recursos como água, pastagens e rotas de comércio. Essa competição provocava alianças, rivalidades e conflitos que moldaram boa parte da história mesopotâmica. Apesar disso, a convivência entre as cidades também proporcionava trocas culturais intensas, com circulação de ideias, técnicas agrícolas, crenças religiosas e tradições artesanais.
O sistema de leis também surgiu desse ambiente. Como as cidades cresciam e as relações sociais se tornavam mais complexas, era necessário criar normas que organizassem a convivência entre as pessoas. As leis regulavam o comércio, definiam punições para crimes e garantiam direitos e deveres. Os juízes, muitas vezes nomeados pelo próprio governante, eram responsáveis por aplicar essas leis e resolver conflitos. A escrita teve papel fundamental nesse processo, pois permitia registrar decisões e manter a ordem social.
Outro elemento importante das cidades estado era a cooperação comunitária. Para irrigar as plantações, era necessário que todos participassem da construção e manutenção de canais e diques. Sem essa colaboração, a cidade não prosperava. Assim, cada morador tinha obrigações em relação ao trabalho coletivo, contribuindo para o bem estar geral. Esse sentimento de responsabilidade compartilhada ajudou a fortalecer o espírito comunitário e a identidade local.
As festas religiosas também tinham papel central. Elas marcavam o calendário agrícola, celebravam os deuses protetores da cidade e uniam a população em momentos de alegria coletiva. Havia procissões, banquetes, cantos, danças e rituais que reafirmavam a ligação entre as pessoas e as divindades. Esses eventos reforçavam a ideia de que a sobrevivência e a prosperidade dependiam tanto do trabalho humano quanto da benevolência divina.
Assim, as primeiras cidades estado da Mesopotâmia surgiram como respostas criativas aos desafios do meio ambiente e às necessidades de organização social. Elas foram construídas com base na cooperação, no trabalho coletivo, no desenvolvimento da agricultura irrigada e na criação de sistemas políticos e religiosos que davam sentido à vida das pessoas. Cada cidade era um mundo em si mesma, com suas crenças, suas tradições, seus governantes e sua população dedicada ao trabalho diário de manter tudo funcionando.
Compreender essa origem é essencial para entender o desenvolvimento da vida urbana ao longo da história. As cidades que conhecemos hoje só existem porque, há milhares de anos, homens e mulheres da Mesopotâmia aprenderam a se organizar, a construir, a cooperar e a criar espaços permanentes onde a vida em comunidade pudesse florescer.
Religião politeísta e a visão de mundo dos mesopotâmicos
Para compreender a religião dos povos da Mesopotâmia, precisamos imaginar um cenário em que as forças da natureza eram vistas como manifestações diretas da vontade de seres sobrenaturais. No cotidiano dos habitantes da região, tudo era percebido como resultado da ação dos deuses. A cheia dos rios, a fertilidade da terra, a chuva necessária para a sobrevivência das plantações, assim como acontecimentos inesperados, como tempestades violentas ou longos períodos de seca, eram interpretados como sinais de que os deuses estavam satisfeitos ou irritados com a humanidade. Desse modo, a religião não era apenas uma parte da vida dos mesopotâmicos. Ela era o centro, o ponto que orientava decisões, comportamentos e a própria organização da sociedade.
A religião mesopotâmica era politeísta, o que significa que acreditavam em muitos deuses. Cada divindade possuía um papel específico e uma personalidade própria. Existiam deuses ligados ao céu, ao vento, às águas, ao amor, à guerra, à escrita, à justiça e a inúmeras outras áreas. As pessoas acreditavam que esses deuses tinham sentimentos semelhantes aos humanos. Podiam demonstrar alegria, tristeza, ira ou carinho. Essa característica fazia com que os mesopotâmicos buscassem constantemente manter uma relação harmoniosa com eles. Temiam sua fúria, mas também confiavam em sua proteção.
Uma ideia extremamente importante entre esses povos era a de que os seres humanos tinham sido criados para servir aos deuses. Na visão deles, a humanidade existia para realizar tarefas que os deuses não queriam executar e também para agradá los com oferendas e rituais. Por isso, a construção de templos monumentais, a celebração de festas religiosas e as oferendas de alimentos eram consideradas obrigações sagradas. Manter os deuses satisfeitos significava garantir a ordem do mundo, a prosperidade da cidade e a segurança de todos.
Cada cidade estado possuía um deus protetor. Esse deus era considerado o guardião da cidade e de todos os seus habitantes. Em Uruk, por exemplo, uma das divindades mais importantes era Inanna, associada ao amor, à fertilidade e também à guerra. Em Nippur, a cidade era dedicada ao deus Enlil, senhor dos ventos e da autoridade. Já em Eridu, o deus Ea, também chamado de Enki, era associado às águas, à sabedoria e à magia. Esses deuses protetores eram tão importantes que a identidade da cidade ficava ligada diretamente a eles. Se uma cidade fosse conquistada por outra, acreditava se que o deus protetor havia se afastado ou havia sido ofendido de alguma forma.
O papel dos templos era essencial para a religiosidade mesopotâmica. Eles funcionavam como centro espiritual e também como centro administrativo e econômico. Os templos não eram apenas lugares de oração, mas verdadeiras instituições onde se concentravam riquezas, alimentos e bens preciosos. Agricultores tinham obrigações de entregar parte de sua produção aos templos, que administravam esses recursos e os distribuíam quando necessário. Assim, o templo era ao mesmo tempo um espaço religioso, um armazém, um banco, um centro político e um símbolo da presença divina entre os homens.
Os sacerdotes eram figuras indispensáveis, pois acreditava se que tinham contato direto com os deuses. Eles eram responsáveis por interpretar sinais, realizar rituais, conduzir cerimônias e aconselhar governantes. Em muitos casos, a autoridade de um sacerdote podia rivalizar com a de um governante, tamanha era sua importância. Os sacerdotes observavam fenômenos naturais, como o movimento das estrelas e o comportamento dos animais, acreditando que esses sinais revelavam mensagens divinas. Dessa prática surgiram tradições que influenciaram sistemas de adivinhação e estudos astronômicos na região.
Além dos templos e rituais diários, os mesopotâmicos celebravam festivais ao longo do ano. Essas festas religiosas marcavam o início das colheitas, as mudanças das estações e acontecimentos que lembravam antigas histórias sagradas. Em algumas festas, estátuas dos deuses eram levadas em procissões pelas ruas, acompanhadas por pessoas cantando, dançando e oferecendo alimentos. O objetivo era renovar a aliança entre o povo e seus deuses, garantindo proteção e prosperidade.
Outra característica marcante da religião mesopotâmica era a crença em mitos que explicavam a origem do mundo, dos seres humanos e das cidades. Esses mitos eram transmitidos por sacerdotes e escribas, e ajudavam as pessoas a compreender a ordem do universo. Um desses mitos contava que os deuses mais jovens travaram lutas contra monstros antigos para criar o mundo. Outro narrava que os seres humanos teriam sido moldados a partir da mistura de argila e do sangue de um deus sacrificado. Essas narrativas davam sentido à existência e reforçavam a ideia de que tudo no universo possuía uma razão divina.
A relação entre os deuses e os governantes era particularmente importante. Em muitos casos, o governante era visto como escolhido pelos deuses para liderar o povo. Ele tinha o dever de manter a justiça, proteger a cidade e garantir que os rituais fossem cumpridos corretamente. Um governante que não agradava aos deuses poderia trazer destruição para a cidade, segundo a crença mesopotâmica. Por isso, reis frequentemente participavam de cerimônias religiosas e faziam oferendas em nome de todo o povo.
A visão de mundo dos mesopotâmicos era, portanto, profundamente espiritual. Eles acreditavam que o universo era um lugar ordenado pelos deuses, mas também perigoso. A vida podia ser abençoada ou castigada dependendo da relação que a comunidade estabelecia com o sagrado. Por isso, cada ação humana tinha importância. Cuidar dos templos, seguir as orientações dos sacerdotes e respeitar as tradições religiosas eram atitudes fundamentais para garantir a estabilidade da cidade e a continuidade da vida.
Além disso, essa religiosidade intensa influenciou diretamente a arte, a arquitetura, a escrita e até mesmo as leis da Mesopotâmia. Muitas esculturas representavam deuses ou criaturas míticas. Os zigurates que serão explicados no próximo tópico eram construções religiosas monumentais. A escrita cuneiforme surgiu, entre outras razões, para registrar oferendas e rituais. Até os códigos de leis eram vistos como instruções que os deuses transmitiam aos governantes para proteger o povo e manter a harmonia.
Assim, quando observamos a religião dos mesopotâmicos, percebemos que ela não era apenas um conjunto de crenças. Era uma maneira completa de enxergar o mundo, de entender a natureza, de organizar a sociedade e de lidar com os desafios da vida. Para eles, nada era separado da dimensão divina. E foi essa visão que moldou profundamente as primeiras civilizações da história.
Zigurates e templos como centros religiosos e políticos
Para compreender a importância dos zigurates e dos templos na Mesopotâmia, precisamos imaginar como era o cenário das primeiras cidades dessa região. Entre casas de tijolos de barro, ruas estreitas e canais de irrigação, erguiam se enormes construções que dominavam a paisagem, visíveis de muito longe. Essas estruturas eram os zigurates, e sua grandiosidade impressionava qualquer pessoa que se aproximasse da cidade. Os zigurates não eram simples prédios. Eles representavam a ligação direta entre o mundo dos humanos e o mundo dos deuses. Essa ligação era tão importante que toda cidade estado possuía o seu próprio zigurate, dedicado ao deus protetor da cidade.
Um zigurate era uma espécie de torre monumental, formada por vários andares superpostos em forma de plataformas que diminuíam de tamanho conforme subiam. Em cada andar havia rampas ou escadas que permitiam o acesso ao topo, onde normalmente existia um templo menor, considerado o local mais sagrado da cidade. Acreditava se que, quanto mais alto estivesse o templo, mais próximo dos deuses ele estaria. Por isso, o topo do zigurate era visto como o ponto de encontro entre o sagrado e o mundo dos homens.
Construir um zigurate exigia enorme esforço coletivo. Era necessário reunir trabalhadores, arquitetos, sacerdotes e especialistas em engenharia. Esses edifícios eram construídos com tijolos de barro, muitas vezes cozidos ao sol ou queimados em fornos. Como a região não possuía muitas pedras, os tijolos se tornaram o principal material de construção. Para reforçar as paredes, camadas de betume, uma substância pegajosa encontrada naturalmente, eram utilizadas como espécie de cola. O resultado era uma estrutura resistente e duradoura, capaz de sobreviver por muitos séculos.
Os zigurates, no entanto, não eram apenas monumentos religiosos. Eles também tinham funções políticas. No topo, onde ficava o templo sagrado, apenas sacerdotes e pessoas autorizadas podiam entrar. Esses sacerdotes eram considerados intermediários entre os deuses e o povo. Eles realizavam rituais, faziam oferendas e interpretavam sinais divinos. Muitas decisões importantes da cidade dependiam dessas interpretações. Se os sacerdotes afirmassem que os deuses estavam satisfeitos, isso motivava o povo a trabalhar mais, a plantar mais e a se organizar de maneira firme. Se os sacerdotes declarassem que os deuses estavam irritados, a população acreditava que era preciso redobrar os cuidados, realizar cerimônias, seguir tradições ou corrigir erros cometidos.
Além disso, os templos localizados nos zigurates funcionavam como centros administrativos e econômicos. Podiam armazenar alimentos, como grãos e óleos, coletados por meio de tributos ou doações. Nesses templos também eram guardados objetos valiosos, como metais preciosos, pequenas esculturas e instrumentos usados nos rituais. Tudo isso era administrado de maneira organizada, muitas vezes registrada por escribas que utilizavam a escrita cuneiforme para controlar entradas e saídas de produtos. Isso mostra que os templos serviam como verdadeiros centros de gestão das cidades.
Outro aspecto essencial dos templos era seu papel na organização social. Pessoas de diferentes classes sociais tinham obrigações e responsabilidades ligadas aos templos. Agricultores precisavam entregar parte de suas colheitas como forma de agradecimento aos deuses. Artesãos produziam esculturas, cerâmicas e instrumentos cerimoniais que eram usados nos rituais. Comerciantes ofereciam uma parte dos lucros de suas viagens, acreditando que assim receberiam proteção divina. Dessa forma, o templo mantinha tudo em funcionamento, garantindo que recursos fossem distribuídos e que a cidade tivesse estabilidade.
Culturalmente, os zigurates representavam a identidade da cidade. Eles eram símbolos de orgulho coletivo. Visitantes e viajantes que chegavam a uma cidade mesopotâmica identificavam facilmente o zigurate e entendiam que aquela construção era o centro espiritual e político da comunidade. Alguns zigurates ficaram tão famosos que foram mencionados em histórias e tradições de outras culturas. A torre de Babel, por exemplo, é frequentemente associada a grandes construções mesopotâmicas que impressionavam por sua altura e por sua importância espiritual.
O interior dos templos também era um espaço de grande significado. Embora a maior parte da população jamais entrasse nesses locais, todos sabiam que dentro deles havia imagens sagradas dos deuses, altares de oferendas, mesas com alimentos e objetos usados nas cerimônias. Os templos eram decorados com cores fortes e tinham inscrições ou símbolos que representavam os deuses e seus poderes. Mesmo sem entrar, os habitantes das cidades se reuniam do lado de fora durante festivais religiosos para participar de procissões, cantos e oferendas que aconteciam na área externa.
Os zigurates e templos reforçavam a ideia de que os deuses estavam profundamente ligados ao destino humano. Para os mesopotâmicos, a vida só poderia prosperar se houvesse harmonia entre a terra, o trabalho e a vontade divina. Por isso, os templos funcionavam como centros que organizavam não apenas a religião, mas também a política, a economia e a cultura. Eram locais onde se tomavam decisões, se distribuíam recursos e se fortalecia o espírito de união da comunidade.
Assim, quando falamos dos zigurates e templos da Mesopotâmia, estamos falando de construções que simbolizavam poder, fé, ordem social e conhecimento. Eles representavam a união entre a espiritualidade e o governo, e mostravam como religião e vida cotidiana estavam completamente entrelaçadas.
Escrita cuneiforme: surgimento e importância para a História
Para entendermos a profundidade da escrita cuneiforme, precisamos voltar no tempo e imaginar o momento em que as primeiras cidades da Mesopotâmia estavam se formando. Esse período foi marcado por transformações tão grandes que mudaram para sempre a maneira como os seres humanos organizavam a vida. Com o crescimento das cidades estado, surgiram novas necessidades. Era preciso administrar colheitas, registrar tributos, controlar armazenamentos de grãos, organizar tarefas coletivas e manter a vida urbana funcionando de modo eficiente. Diante desse cenário, as pessoas perceberam que confiar apenas na memória não era suficiente. Assim nasceu a escrita cuneiforme, uma das mais antigas escritas já criadas pela humanidade.
A escrita cuneiforme recebeu esse nome porque suas marcas tinham o formato de pequenos traços semelhantes a cunhas, que eram impressos em tabuletas de argila ainda úmida. O instrumento usado para escrever era um estilete feito normalmente de bambu ou de madeira, com extremidade triangular. Quando pressionado contra a argila macia, produzia marcas que formavam combinações de linhas e ângulos. Depois da escrita pronta, a argila podia ser deixada ao sol para secar ou até mesmo ser levada ao fogo para endurecer, garantindo que as informações permanecessem guardadas por muito tempo.
No início, a escrita cuneiforme era bastante simples e servia principalmente para registrar atividades econômicas. As tabuletas mais antigas mostram listas de produtos, como sacos de cevada, jarras de óleo ou animais de criação. Também registravam transações comerciais, tributos entregues ao templo, números de trabalhadores envolvidos em determinadas tarefas e quantidades de alimentos armazenados. Essa forma inicial de escrita era totalmente ligada à necessidade prática de organizar a vida coletiva. Aos poucos, no entanto, ela foi se tornando mais complexa e flexível.
Com o tempo, os símbolos passaram a representar não apenas objetos concretos, mas também ideias abstratas, sons e até expressões completas. Isso abriu um universo de possibilidades. A escrita deixou de ser apenas um instrumento econômico e se transformou em um meio para registrar histórias, mitos, leis, orações e acontecimentos importantes. Foi por meio da escrita cuneiforme que os mesopotâmicos puderam preservar seus conhecimentos, suas crenças e sua memória coletiva, permitindo que estudiosos de épocas posteriores conhecessem detalhes incríveis sobre como viviam, o que acreditavam e como organizavam suas cidades.
Entre os conteúdos mais conhecidos registrados em escrita cuneiforme está o famoso conjunto de leis criado por um dos reis da Mesopotâmia. Essas leis foram gravadas em estelas de pedra e também em tabuletas de argila. Elas organizavam aspectos da vida social, do comércio, da família, do trabalho e de conflitos entre pessoas. Esse tipo de registro mostra como a escrita era vista como um instrumento de autoridade e justiça. O que era registrado ganhava força e reconhecimento entre todos os habitantes da cidade.
Outro exemplo marcante são as histórias épicas que foram preservadas em cuneiforme. Entre elas, uma das mais conhecidas conta a trajetória de um herói que vive aventuras, enfrenta perigos e reflete sobre questões como amizade, coragem e destino. Esse tipo de obra mostra que a escrita cuneiforme não servia apenas para funções administrativas, mas também para transmitir valores, crenças e reflexões profundas sobre a vida humana.
Os escribas eram os especialistas responsáveis por ler, escrever e interpretar a escrita cuneiforme. Eles tinham enorme importância na sociedade, pois dominavam um conhecimento complexo e fundamental para a organização da cidade. Para se tornar escriba, uma pessoa precisava passar por anos de estudo, memorização e prática. As escolas de escribas funcionavam quase como centros de ensino avançado, onde se aprendia desde matemática até registros administrativos e histórias tradicionais. A presença desses profissionais mostra como a escrita estava no centro da vida urbana.
Ao dominar a escrita, a Mesopotâmia se tornou um dos primeiros lugares onde o conhecimento pôde ser acumulado e transmitido com precisão. Isso permitiu que gerações posteriores aprendessem com as anteriores, aperfeiçoassem técnicas de agricultura, construíssem novos sistemas de irrigação, desenvolvessem formas de organização política e registrassem tudo isso para que não se perdesse com o tempo. A escrita cuneiforme funcionava como uma ponte entre o passado e o presente, possibilitando que as tradições, descobertas e ensinamentos sobrevivessem.
Outro aspecto fascinante da escrita cuneiforme é que ela deu origem a milhares de tabuletas, que hoje são preservadas em museus e centros de pesquisa ao redor do mundo. Essas tabuletas contam o dia a dia das pessoas comuns, registrando desde listas de compras até cartas pessoais. Algumas cartas revelam preocupações familiares, pedidos de ajuda ou instruções de trabalho. Outras tabuletas registram receitas de alimentos, fórmulas matemáticas e observações astronômicas. Através delas, podemos reconstruir aspectos da vida mesopotâmica que seriam impossíveis de conhecer apenas por objetos ou ruínas.
Além de tudo isso, a escrita cuneiforme inspirou outros povos do Oriente Próximo, influenciando a criação de novos sistemas de escrita e contribuindo para a difusão de conhecimentos por toda a região. Ela foi usada durante muitos séculos e atravessou diversas transformações, acompanhando mudanças políticas, econômicas e culturais. Seu impacto foi tão profundo que se tornou um elemento essencial para que a história humana pudesse ser registrada, compreendida e estudada. Portanto, quando falamos da escrita cuneiforme, estamos falando de uma das maiores invenções da humanidade. Ela não surgiu da noite para o dia. Foi fruto da necessidade prática, do trabalho coletivo e da criatividade humana. Sua criação marcou o início da história registrada, permitindo que os acontecimentos deixassem de depender apenas da memória. E é graças a ela que hoje conhecemos muitos detalhes sobre as sociedades que floresceram entre os rios Tigre e Eufrates.
