Curso de História para o 6º Ano do Ensino Fundamental
Aula 6.5 – Guerra do Peloponeso: Atenas x Esparta
Como fazer referência ao conteúdo:
| Dados de Catalogação na Publicação: NORAT, Markus Samuel Leite. Curso de história para o 6º ano do ensino fundamental. João Pessoa: Editora Norat, 2025. Livro Digital, Formato: HTML5, Tamanho: 132,4125 gigabytes (132.412.500 kbytes) ISBN: 978-65-86183-88-7 | Cutter: N828c | CDD-907.1 | CDU-94(075.3) Palavras-chave: História. Ensino Fundamental. Educação Básica. Civilizações Antigas. Idade Média. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. É proibida a cópia total ou parcial desta obra, por qualquer forma ou qualquer meio. A violação dos direitos autorais é crime tipificado na Lei n. 9.610/98 e artigo 184 do Código Penal. |
Aula 6.5 – Guerra do Peloponeso: Atenas x Esparta
Para compreender a Guerra do Peloponeso é preciso, antes de tudo, imaginar o cenário que se formou na Grécia após o fim das Guerras Médicas. A vitória dos gregos sobre os persas fortaleceu não apenas o sentimento de unidade entre as cidades estado, mas também despertou novas ambições políticas e militares. Atenas, em especial, emergiu como protagonista dessa nova fase. Com uma poderosa frota naval e uma economia fortalecida pelo comércio marítimo, a cidade passou a exercer uma influência crescente em toda a região do mar Egeu.
Durante esse período, Atenas não apenas reforçou sua defesa, como também consolidou alianças por meio de uma organização que ficou conhecida como Liga de Delos. Essa liga reunia cidades que desejavam manter distância da ameaça persa, mas com o tempo passou a funcionar como um instrumento de dominação ateniense. Diversas cidades que antes contribuíam voluntariamente passaram a se sentir obrigadas a seguir as diretrizes impostas por Atenas. A cidade se tornou uma potência marítima e política, controlando rotas, impondo tributos e influenciando decisões de várias comunidades gregas.
Enquanto Atenas crescia em riqueza e prestígio, Esparta observava essa ascensão com crescente preocupação. Esparta era uma sociedade totalmente diferente. Sua força estava apoiada em um exército terrestre disciplinado e formado por cidadãos soldados treinados desde a juventude. Os espartanos valorizavam a simplicidade, a obediência, a austeridade e evitavam o luxo que caracterizava a Atenas daquele período. Para os espartanos, ver Atenas se tornar tão poderosa ameaçava o equilíbrio tradicional da Grécia.
As tensões começaram a aumentar quando cidades aliadas a Esparta passaram a reclamar do comportamento dominador de Atenas. Uma série de disputas e incidentes menores acendeu o clima de rivalidade entre os dois blocos. Por um lado estava a Liga de Delos, liderada por Atenas, e por outro estava a Liga do Peloponeso, liderada por Esparta. O conflito parecia inevitável, pois as duas cidades representavam visões opostas sobre política, sociedade e poder.
A guerra começou oficialmente quando Corinto e outras cidades do Peloponeso pressionaram Esparta a agir contra Atenas. Esparta, então, decidiu intervir, acreditando que se não enfrentasse os atenienses naquele momento, em breve não teria mais forças para resistir ao avanço do poder rival. Assim, a Grécia mergulhou em um conflito longo e destrutivo, que duraria quase trinta anos e mudaria profundamente o destino das cidades estado.
No início da guerra, Atenas utilizou sua maior vantagem: o domínio do mar. A estratégia ateniense, elaborada por seu influente líder político, consistia em evitar confrontos diretos com o poderoso exército espartano em terra firme. Em vez disso, Atenas se protegeria dentro de suas muralhas longas, que conectavam a cidade ao porto de Pireu, garantindo que o fornecimento de alimentos e recursos continuasse mesmo durante o cerco inimigo. Enquanto isso, sua frota naval atacaria regiões costeiras inimigas e garantiria o controle sobre os mares.
Essa estratégia funcionou inicialmente, mas trouxe consigo um problema inesperado. Com a população refugiada dentro das muralhas, o espaço da cidade se tornou extremamente apertado. Foi nesse ambiente superlotado que uma doença devastadora se espalhou rapidamente. A epidemia atingiu Atenas de maneira violenta, causando um número enorme de mortes e afetando profundamente o moral e a capacidade de organização da cidade. Entre as vítimas estava o próprio líder que havia planejado a estratégia inicial, o que enfraqueceu politicamente os atenienses.
Mesmo assim, Atenas continuou resistindo. A guerra prosseguiu com avanços e recuos de ambos os lados. Houve momentos em que Atenas parecia recuperar forças e até momentos em que Esparta enfrentou dificuldades internas. Mas a guerra se tornou cada vez mais desgastante. Em muitas regiões, colheitas foram destruídas, cidades foram devastadas e populações inteiras sofreram com a instabilidade constante. A disputa já não era apenas pela liderança, mas pela sobrevivência de cada lado.
Um ponto decisivo da guerra ocorreu quando Atenas, movida por um misto de confiança excessiva e ambição, decidiu realizar uma grande expedição militar contra a cidade de Siracusa, na ilha da Sicília. A ideia era ampliar ainda mais seu poder, conquistar novos territórios e aumentar seu controle sobre rotas marítimas. No entanto, essa expedição se mostrou um erro fatal. A frota enviada para Siracusa enfrentou resistência inesperada e acabou praticamente destruída. A derrota foi tão impactante que abalou profundamente Atenas, reduzindo sua capacidade de continuar lutando com a mesma força.
Após essa derrota, Esparta intensificou seus ataques. Com o apoio financeiro do Império Persa, que via vantagem em enfraquecer Atenas, Esparta conseguiu construir uma frota naval capaz de rivalizar com a ateniense. Aos poucos, Esparta passou a dominar o mar, impondo um bloqueio ao porto ateniense e cortando o abastecimento de alimentos. Sem recursos, sem frota e com a população exausta, Atenas finalmente se rendeu.
Com a vitória espartana, a Grécia entrou em um período de transformações profundas. Esparta tentou impor um governo alinhado aos seus interesses, conhecido como governo dos trinta, mas essa política gerou grande instabilidade e descontentamento. Embora Esparta tenha vencido militarmente, o custo da guerra foi tão alto que nem ela, nem Atenas, nem qualquer outra cidade grega conseguiu recuperar plenamente sua força anterior.
O enfraquecimento das cidades estado abriu espaço para o avanço de novos poderes. A instabilidade criada pela guerra fragilizou a autonomia grega e facilitou, nos séculos seguintes, a ascensão do reino da Macedônia, que acabaria unificando a Grécia sob a liderança de Filipe e, mais tarde, sendo conduzida a conquistas ainda maiores por Alexandre.
Assim, vimos que a Guerra do Peloponeso representou o colapso de um equilíbrio político delicado que havia sustentado o desenvolvimento grego por séculos. Representou também a confirmação de que, mesmo sociedades brilhantes e influentes, quando movidas pela rivalidade e ambição desmedida, podem comprometer sua própria continuidade. A guerra deixou lições profundas sobre política, diplomacia, convivência e limites da competição entre povos que compartilham um mesmo território. Ela mostrou que a divisão interna pode ser tão perigosa quanto uma ameaça externa e que a busca exagerada por hegemonia pode levar à queda de todos os envolvidos.
