
Tudo sobre o Mesolítico (Aula 30)
23 de junho de 2025Como fazer referência ao conteúdo:
Dados de Catalogação na Publicação: NORAT, Markus Samuel Leite. A construção da história e a origem da humanidade. João Pessoa: Editora Norat, 2025. Livro Digital, Formato HTML5, Tamanho: 96,3 gigabytes (96.300.000 kbytes) ISBN: 978-65-86183-82-5 | Cutter: N834c | CDU – 930.85 Palavras-chave: Pré-história; Evolução humana; Formação das civilizações TODOS OS DIREITOS RESERVADOS. É proibida a cópia total ou parcial desta obra, por qualquer forma ou qualquer meio. A violação dos direitos autorais é crime tipificado na Lei n. 9.610/98 e artigo 184 do Código Penal. |
Tudo sobre o Período Mesolítico:
Depois de explorarmos o Paleolítico em seus mínimos detalhes, chegou o momento de compreendermos um período de transição tão fascinante quanto complexo: o Mesolítico.
O Mesolítico, também chamado de Epipaleolítico em algumas regiões, é um momento da história humana que representa a ponte entre o modo de vida paleolítico e as mudanças profundas que caracterizarão o Neolítico. Esse período é marcado por transformações climáticas, ambientais, sociais e tecnológicas que, juntas, moldaram uma nova etapa da existência humana.
Diferentemente do que muitas pessoas pensam, o Mesolítico não aconteceu de maneira uniforme no planeta. Em algumas regiões do mundo, como certas áreas da Europa, ele foi bem marcado. Já em outras, como no Egito ou na Mesopotâmia, houve uma transição direta entre o Paleolítico e o Neolítico, sem a presença clara de um período intermediário. Isso mostra que a evolução humana não seguiu uma única linha reta, mas sim trilhas variadas, influenciadas pelas características ambientais de cada região.
O início do Mesolítico coincide com o fim da última era glacial, por volta de doze mil anos atrás. A transição do Pleistoceno para o Holoceno alterou drasticamente o clima e os ecossistemas do planeta. Regiões que antes eram dominadas por geleiras começaram a se transformar em florestas temperadas. Com isso, muitos dos grandes animais caçados durante o Paleolítico, como o mamute-lanoso e o rinoceronte-lanudo, foram extintos ou migraram para o norte. Em seu lugar, surgiram novas oportunidades alimentares: cervos, javalis, coelhos e aves passaram a compor a dieta dos grupos humanos. A coleta de frutos, raízes e sementes se intensificou, e a pesca passou a desempenhar um papel central na sobrevivência.
Esse novo cenário exigiu mudanças nas estratégias de subsistência. As ferramentas também evoluíram. A indústria lítica do Mesolítico se caracterizou pela produção de micrólitos – pequenas lâminas de pedra adaptadas a novas funções. Essas peças, muitas vezes encaixadas em hastes de madeira ou ossos, formavam lanças, arpões, facas e pontas de flechas, sendo fundamentais para a caça de animais menores, pesca e coleta.
Outra transformação marcante foi o início de uma sedentarização sazonal. Enquanto no Paleolítico os grupos eram fortemente nômades, seguindo as migrações dos animais, no Mesolítico muitos grupos passaram a montar acampamentos semipermanentes, retornando a eles conforme as estações mudavam. Em regiões com abundância de recursos, como áreas costeiras ou fluviais, surgiram verdadeiros assentamentos, onde algumas famílias permaneciam por períodos mais longos. Abrigos eram construídos com troncos e ramos, muitas vezes à beira de rios. Também encontramos os chamados concheiros, enormes depósitos de conchas que nos revelam o quanto os mariscos e moluscos eram consumidos nesses locais.
Um dos marcos mais importantes desse período é a possível domesticação do primeiro animal: o cão. É nesse momento que ele deixa de ser apenas um predador selvagem e passa a viver próximo aos humanos, colaborando nas caçadas, guardando os acampamentos e criando uma relação de companheirismo que permanece até os dias de hoje.
No campo social, o Mesolítico trouxe sinais iniciais de diferenciação. Os enterramentos já demonstram certa hierarquia. Alguns corpos eram sepultados com enfeites, adornos e ferramentas, enquanto outros, não. Isso pode indicar o surgimento das primeiras formas de distinção social entre indivíduos, algo que será mais evidente no Neolítico.
No Oriente Próximo, destaca-se a cultura natufiana, que marca uma transição clara do modo de vida caçador-coletor para o sedentarismo agrícola. Esses povos viviam em vilas circulares, construídas com materiais orgânicos, armazenavam cereais silvestres em silos e já utilizavam moinhos de pedra para processar grãos. O mais impressionante é que eles enterravam seus mortos dentro das próprias casas, prática que sugere um forte vínculo familiar com o espaço doméstico e um senso de ancestralidade.
A arte também passou por uma transformação. Se no Paleolítico tínhamos pinturas realistas, com cenas de animais majestosos, no Mesolítico a arte assume um estilo mais esquemático, abstrato e simbólico. Pinturas rupestres desse período mostram cenas de dança, caça e rituais, com figuras humanas muito estilizadas, em movimento, muitas vezes representando xamãs, caçadores e até mesmo combates entre grupos. Essa arte se expressa principalmente em abrigos rochosos, especialmente em regiões como o Levante espanhol. As cores predominantes eram o vermelho e o preto, feitas com pigmentos naturais.
Além disso, esculturas em pequenos objetos, como cabos de ferramentas ou almofarizes, trazem representações de animais, padrões geométricos e possíveis símbolos mágicos. A espiritualidade, portanto, ainda estava presente, mas ganhava formas novas, talvez mais relacionadas à organização social emergente e aos rituais comunitários.
Alguns estudiosos acreditam que o que chamamos de revolução neolítica começou, de fato, no Mesolítico. Durante esse período, surgiram grupos especializados na coleta e caça de certos tipos de recursos previsíveis e abundantes. Isso permitiu o armazenamento de alimentos, o crescimento populacional e a concentração de bens. Com isso, começam a se formar as primeiras hierarquias sociais, lideradas por chefes e xamãs, que gerenciavam os excedentes e organizavam a vida coletiva. A domesticação de plantas e animais, nesse contexto, não foi um salto repentino, mas sim o desdobramento natural de um modo de vida que se tornava cada vez mais complexo.
Em resumo, o Mesolítico é o retrato de um mundo em transição. Um mundo onde os humanos já dominavam ferramentas sofisticadas, começavam a entender o poder do coletivo, buscavam maneiras de controlar a natureza ao seu redor e se preparavam, sem saber, para um dos maiores saltos civilizatórios da história: o domínio da agricultura e o surgimento das primeiras aldeias permanentes.
Na próxima aula, nós vamos explorar justamente essa nova etapa: o Neolítico. Vamos entender como a agricultura, a criação de animais e a construção das primeiras vilas mudaram tudo na trajetória da humanidade. Por enquanto, fico por aqui. Espero que você tenha compreendido o quanto o Mesolítico foi fundamental para o nosso caminho até a civilização. Nos vemos na próxima aula. Até lá!